terça-feira, 18 de agosto de 2009

Sobre celulares em Braille e outros modismos


Desde que Inclusão virou moda, encontro diariamente pessoas [físicas e jurídicas] com vestimenta comportamental nem um pouco “fashion”. Vi na internet uma notícia sobre um novo investimento “inclusivo/informacional” que seria o Google Para Cegos. Convivendo com pessoas visualmente limitadas desde 1997, vendo a desenvoltura com que utilizam o computador [com o auxílio de softwares ledores de tela] e envolvida na luta em prol de sites e outras mídias acessíveis a todos [eu disse a TODOS], achei no mínimo um disparate a construção de um buscador para uso exclusivo de cegos.

A interface do site se assemelha à do Google nosso de cada dia, mas a opção de busca de imagem foi suprimida, para desespero de minha amiga Silvania Macedo, professora de História que ficou cega com vinte e poucos anos, sempre usou imagens nas aulas que ministra para alunos videntes e usuária assídua da opção de busca de imagens do Google, necessitando apenas de um profissional para fazer a audiodescrição dessas figuras.

Ainda não tinha me recuperado do choque provocado pelo Google e comecei a ser bombardeada com a mais recente e nada fashion obra da passarela da inclusão: o celular para cegos. Desisti de encontrar a utilidade desse aparelho. Trabalho com cegos há muito tempo, a maioria deles usam celulares convencionais, inclusive enviam SMS com autonomia, sem a necessidade de inscrições em Braille nas teclas. Quando penso na quantidade de projetos realmente importantes que não recebem apoio para serem levados adiante e vejo uma invenção completamente inútil ser aclamada como veículo de inclusão social e até ser laureada com um dos prêmios mais importantes do mundo, fico a me perguntar onde anda o esquecido, mas indispensável, “Bom Senso”.


***
Legenda da foto: Um celular branco com inscrições em Braille no lugar de teclas, sendo segurado por duas mãos.


Foto daqui

9 comentários:

  1. Também percebo um certo "modismo" em alguns casos. Essa do celular é um modismo claro. Um celular para dv tem que ter um ledor de telas incorporado e não somente as teclas em braille. Já que o assunto é inclusão, que o façam da maneira correta!

    Beijos "fashions"!

    ResponderExcluir
  2. Concordo. Estas idéias saem das cabeças vazias dos marketeiros e visam apenas "tirar onda" e fatura mais.
    Parabéns pelo texto.

    ResponderExcluir
  3. Como disse um amigo meu de Recife:

    "Daqui a pouco vão inventar mulheres para cegos. Mulheres em braille... (risos).

    Um grande abraço
    Antônio Muniz"

    ResponderExcluir
  4. Hello, my teacher temporary!
    Parabéns pelo blog!

    Ezequiel

    ResponderExcluir
  5. Bom senso...Está aí uma coisa que aprendi cedo e vejo muito pouco sendo usado.Então aprendi que não adianta reclamar,esbravejar...O négocio é, se vc não pode ir contra, torne-se fornecedora de idéias para eles e diga das necessidades que os cegos possuem.Faça com que eles façam o que vc quer sem que percebam isso ou que terão proveito da idéia.Politica!

    ResponderExcluir
  6. Quem faz um produto deve pensar nas características, nas necessidades do público-alvo. Reclamar adianta, sim! Fornecedora de idéias eu já sou há tempos! Quem se propõe a produzir acessibilidade, no mínimo deve estudar o assunto e procurar a opinião dos excluídos. Em todo caso, respeito seu gosto se você é admirador da engenhoca em questão neste post... [risos]

    ResponderExcluir
  7. O problema que a patrícia coloca não é novo. O problema de Inclusão /Exclusão encontra-se no cerne da questão da natureza humana. As concepções de incapacidade (visual, auditiva, motora e etc.) encontram-se na concepção que cada um de nós vai criando sobre a natureza humana.
    O mundo contemporâneo tem uma preocupação fanática, posso dize-lo, relativamente aos chamados “excluídos” ou “incapazes” e tenta encontrar soluções e arranjos em relação ao que considera o agente da exclusão.
    O problema encontra-se na pessoa que olha o problema - exclusão. Do ponto de vista do “inserido” parte do mundo é inalcançável e interpretável para a pessoa com limitações e muitas vezes são condicionados a inventarem soluções para questões que não necessitam de solução como os telemóveis em braille). E neste ponto dá-se, a verdadeira ou primeira exclusão!

    ResponderExcluir
  8. entaum alguém aih... por favor me indiquem um ledor de telas para celular.

    ResponderExcluir

Comente! É de graça! =]