Sempre tive uma verdadeira
fascinação pela escrita em todas as suas manifestações. Meu primeiro contato
com este mundo maravilhoso se deu muito cedo e a parede do meu quarto logo se
transformou em meu painel predileto, para desespero da minha mãe, que para
resolver este entrave me presenteou com cadernos e folhas de ofício que me
acompanhariam “do primeiro rabisco até o bê-á-bá” [custavam menos que a tinta
da parede e não inibiria meu desenvolvimento motor].
Entrei na escola um pouco tarde
[por volta dos 6 anos], mas já sabia fazer desenhos “incríveis” e escrever a
palavra mais linda e importante deste mundo: Patrícia. Eu fazia um “P” bem
grande e desenhava flores, coelhos, casinhas... Minha família aplaudia. Conheci
a primeira professora que me pareceu ser uma pessoa bem amável, mas bastou
minha mãe dobrar a esquina e aquela criatura sem dotes para o magistério
mostrou suas garras: “Entrem! Vamos logo! ‘Crionças’! Se não for no grito vocês
nunca obedecem! Deus me livre de filhos”... Bem que aquela menininha da outra
turma havia me avisado que a professora era bem brava. A aula começou e logo a
“mestra” pediu que tentássemos copiar algumas letras que ela escreveria no
quadro. Seria minha chance! Eu escreveria as letrinhas e desenharia coisas bem bonitas
no meu caderno, quem sabe este seria um bom jeito de atingir a sua emoção?
Afinal todos lá em casa gostavam dos meus desenhos, a pró não seria
diferente. Fiz conforme planejado. Quão
grande foi minha decepção quando, cheia de encantamento, mostrei minha
atividade para aquele ser bestial. “O que é isto? Você não sabe fazer o que
alguém manda? Acho que teremos problemas! Que coisa ridícula!”. Como poderia
ser ridícula aquela coisinha meiga que eu fiz com tanto carinho? Aquela
professora, que nem vale citar o nome, era antes de tudo uma louca e eu, antes
de tudo, uma teimosa...
Passaram-se oito anos. O cenário
era outro: escola pública, aula de Português, caderno grande e uma Patrícia um
pouco diferente por fora, mas com a mesma irreverência, embora mais contida, de
sempre. Esta nova professora era mesmo diferente. Como pode uma pessoa que
leciona Língua Portuguesa usar os assuntos de outras disciplinas em suas aulas?
Era inédito para mim alguém permitir e até provocar que nossas atividades
revelassem nossa personalidade e dotes artísticos. Eu achava que aquilo era bom
demais para ser verdade e me limitei a assistir suas aulas e admirá-la, de
longe, afinal ela também trazia consigo um ar de seriedade e eu preferia não
arriscar.
Certo dia ela chegou irradiando
beleza. Peguei meu caderno e fiz uma caricatura. Mal terminei e fui assaltada
por minha colega que disse: “Vou mostrar para a professora!!!”. Pedi, implorei,
quase chorei, mas a danada entregou mesmo. A professora me olhou bem séria e
pediu que eu ficasse um pouco mais depois da aula. Gelei. A turma esperava no
pátio que o pior pudesse acontecer. Que surpresa quando aquela mulher tão
imponente me olhou e disse: “Obrigada, foi uma homenagem linda. A escola irá
realizar uma exposição de arte e, se você quiser, posso te oferecer um painel
bem grande onde você possa se expressar à vontade”. Aceitei. Reproduzi no
painel a figura da Professora Maria José Grillo, que é, antes de tudo, um ser
humano lindo e sabe muito bem o sentido do verbo “Educar”.
Patrícia Braille/2004
Paty, ameei sua postagem! Você escreve muito bem ^^
ResponderExcluirFaltou só uma fotinha da caricatura, posta pra gente, vaiii?! =D