Periguetes: não há quem as defina,
mas não há quem não as identifique. Elas estão em toda parte, em todas as
classes sociais. De Norte a Sul, subindo e descendo [e também mexendo pros
lados]. É um fenômeno que acontece nas melhores famílias.
Periguetes existem desde a Idade
da Pedra Lascada. Eram aquelas mulheres nas quais não era necessário o australopithecus
dar uma clavada na cabeça para consumar o coito. A australoperiguetis até cunhou o termo homo erectus para designar os tipos de homens que, inevitavelmente,
caíam em suas armadilhas [geralmente aqueles com o cérebro significativamente
menor do que o de um homo sapiens].
Mesmo sendo um fenômeno tão
remoto, não existia um termo específico para designar essa entidade social, até
que algum baiano, provavelmente sentado numa mesa de bar em alguma praia do
Subúrbio Ferroviário em um fim de tarde com os camaradas, viu a moleca passar e
comentou: “Na lábia dessa vagaba eu não caio mais. Isso aí é um perigo!”. O outro
comentou com uma risada safada: “Eta, que perigo bom! Me leva, periguete!”.
Risada geral e, tal qual o ser humano identificado pelo termo, o verbete “periguete”
correu de boca em boca e é conhecido em todo o Brasil. A Bahia inventando moda.
Apesar de ter gasto um parágrafo
inteiro para contar essa historinha verdadeira que eu inventei, acredito mesmo
é que Maria Odete Brito de Miranda foi uma visionária ao cantar a Ode às
Periguetes, bem antes do surgimento do termo. Quem não lembra ou não conhece o
complexo refrão “Piri-piri-piri” não saberá elaborar ou compreender o
trocadilho Piri-Gretchen [usem o Youtube para fins mais úteis, gente! Conheçam
os ícones da cultura pop brasileira!].
O que são as periguetes? O que
vestem? Do que se alimentam? Qual o seu
habitat natural? Não esperem essas respostas no Globo Repórter. Vamos
tentar entender por aqui mesmo, certo? Não sei definir as periguetes, mas vou
dar pistas de como identificar uma. Se você é homem, experimente atualizar seu
Facebook com a informação “Em um relacionamento sério”. Em três segundos uma
periguete vai aparecer em seu mural e escrever, preferencial, mas não
obrigatoriamente, em miguxês: “Linduu! Xodade gandona” [Tradução: Lindo,
saudade grande]. É assim: elas sentem saudade de homens casados ou
comprometidos em geral.
Ainda no contexto das redes
sociais, as periguetes têm uma forma muito particular de usar essas ferramentas:
postam fotos de 30 em 30 minutos, usando roupas mínimas, fazendo biquinho. Elas
dão uma pausa no dia, escolhem uma roupa minúscula e/ou que fique bem colada no
corpo, passam maquiagem à exaustão e correm para frente do espelho para fazerem
aqueles hediondos autorretratos onde a câmera fotográfica aparece como
coadjuvante. Suponho que periguetes não trabalhem ou não se importem com a imagem
que fotografias como essa podem sugerir para os colegas de trabalho. Uma vez
publicadas as 3.550 fotos com bundinha empinada, lábios [os de cima] em posição
genital, decotes profundos e carinha de ingenuidade forçada [ou não] elas
escrevem: “Genty! Curti pra eu? Tô concorrendu e precisu de seu votu para ser a
Delícia Feicibuque da semana” [Traduzindo: Gente, curte para mim? Estou
concorrendo e preciso do seu voto para ser a Delícia Facebook da semana]. Chove
homo erectus, mesmo os comprometidos,
nas opções curtir/compartilhar. A periguete agradece em êxtase.
Depois desse festival de
testosterona em ebulição, vem a tempestade: esposas iradas, namoradas em
lágrimas, ódio, ressentimento, cenário de crime passional. E a periguete tem a
desfaçatez de publicar: “Não sei por que razão as mulheres comprometidas me
odeiam tanto. Estou triste” [já traduzido, ok?]. Mais uma chuva de marmanjo
para consolar a bandida, que consegue chegar ao extremo do cinismo e publicar: “Homens,
me deixem em paz! Vão cuidar de suas namoradas ciumentas! Parem de me cutucar”
[também já traduzido – risos]. Assim caminha a periguetagem. E por falar em
caminha...
A periguete vai pra cama com quem
ela quer e com uma rotatividade de dar inveja a uma “mariamadalena”. Elas não
são prostitutas [essas acertam o preço às claras, agem como profissionais].
Suponho que periguetes sejam algum ponto mal resolvido entre a liberação sexual
e o respeito ao próximo, porque seu objeto de desejo é, rotineiramente, homem
comprometido. Talvez por um complexo de Alexandre Pires [“O que é que eu vou
fazer com essa tal liberdade?”] ou pela possibilidade de ter apenas o lado,
digamos, “lúdico” de um envolvimento homem/mulher. A realidade é que elas saem
à caça de babacas que pagam seus ingressos em shows, bancam suas compras,
compostas de muitas pulseiras barulhentas, maquiagem, máquinas fotográficas
digitais e paninhos para tapar mamilos e “países baixos”. No que depender
dessas criaturas, a indústria têxtil fica parada, afinal, elas não sentem frio.
Não se deve ignorar a origem da
palavra “periguete”. Repitam comigo: Periguete vem de “perigo” e com perigo não
se brinca. Elas vieram ao mundo para brincar, não têm compromisso com nada que
esteja fora da lista de vontades sexuais e consumistas. Se elas soubessem o que
é hedonismo, com certeza se valeriam desse argumento: “Sou hedonista”. Não
quero dizer com isso que elas sejam burras. Como já falei, elas são um fenômeno
que pode acontecer nas melhores famílias. Ser periguete é uma opção de vida e
não uma condição imposta por fatores regionais, sexuais, econômicos ou o que
quer que seja. Elas se alimentam de intrigas, dissimulação, vaidade. Gostam de
ver o circo pegar fogo. Não, periguete não é a nova “galinha”. A menina-galinha
gostava de ter muitos namorados e a periguete não quer isso. Quando elas
anunciam “Estou carente, quero um amor” você pode traduzir: “Estou disponível
para pegar um cara comprometido que pague minha cerveja”.
Para as meninas, um conselho de
fim de texto: não briguem por causa de periguetes. É o paraíso para elas.
Ignorem sem medo. Um homem que se rende a um apelo desses não merece sua
atenção. Para os meninos, fica a orientação: nunca mais se esqueçam de ignorar
frases inocentes do tipo “Sua namorada não gosta de mim. Tentei ser amiga dela,
mas ela não quer. Ela é ciumenta?”. A menos que vocês queiram o trofeu “Otário
Golden”, não se misturem com essa gentalha, como sabiamente dizia Dona
Florinda.
KKKKKKKKKK. Me lembrou um texto do antropólogo Roberto Albergaria sobre os tipos do Carnaval baiano. Obviamente, que o estilo Patrícia de escrever é bem diferente. Daria uma excelente monografia. Amei... e morro de dar risada. Parabéns Patinha!
ResponderExcluirObrigada, menina!! Estou vingando as maldades que as "piris" fazem com minhas amigas! hahaha
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ResponderExcluirBacana, Patrícia do Braille. Vou indicar a leitura do seu texto a amigos. Abr (carlos barbosa)
ResponderExcluirObrigada, Carlos! Abraços letrados da amiga e leitora.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAmei o texto Pat.Saudades!
ResponderExcluirBeijo grande
Obrigada, menina! Saudade grande também! Beijos
ExcluirAdorei!
ResponderExcluirVou compartilhar, ok?
Beijo, beijo!
Valeu, Monnerat! Beijão!
ExcluirAdorei! Vou compartilhar, ok?
ResponderExcluirBeijo, beijo!
Este texto é a sua cara... Não que você seja piriguete, mas tem um quê de sapeca como só você sabe expressar!
ResponderExcluirObrigada, Kind!
ExcluirSe você fosse uma peri ia ficar igualzinha a da figura.
ResponderExcluirMedo de morrer você não tem, né? rsrs
ExcluirGenteeee...hahaha. A-M-E-I tudo que vc escreveu.
ResponderExcluirRi muito aqui..
Muito original.
=*
Obrigada! Se você deu um pouquinho de risada, meu texto já valeu. Beijos!
ExcluirPatrícia Braille, parabéns pelo texto, muito bom. Mas, gostaria de entender melhor onde ou como concluiu que piriguete vem do trocadilho PiriGretchen. É a terceira pessoa que encontro que faz esta referencia, mas, as outras não souberam explicar como chegaram a esta conclusão. ficarei feliz se vc pudesse explicar ou indicar onde procurar.obrigado.
ResponderExcluirProfessor, eu inventei o trocadilho para usar neste texto. É uma ironia, só pra fazer rir. Obrigada pelo comentário!
ExcluirPatrícia Braille, achei seu texto muito bom, esta um verdadeiro ensaio no sentido técnico da palavra. Perfeito. Percebi que vc faz uma referencia de trocadilho com a ideia de piriguete associada a PiriGretchen, o que já é a terceira pessoa que faz esta associação, porém, não souberam explicar a origem ou como chegaram a esta conclusão. Você chegou a esta conclusão como em que fonte ou ponto que leu ou pesquisou. Ficarei muito feliz com suas orientações para fundamentar este ponto da origem da piriguete. obrigado.
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