terça-feira, 3 de maio de 2011

Sobre a "importância" de fazer um mestrado


Depois de eu ter ministrado uma das melhores palestras de minha vida, uma moça me procurou e disse friamente: "Você foi bem em sua fala. Parabéns. Fez muita coisa pela Educação dos cegos, hein? Mas, e Mestrado? Você não tem Mestrado, não é?" [foi a maneira que ela achou de me homenagear por ter mantido um auditório cheio durante 2 horas e meia, perto do meio-dia, com pessoas motivadas e interessadas no que estava sendo proferido por mim]. Respondi: "Bem lembrado! Não tenho Mestrado, mas vou incluir na pauta". Sorri. Em casa, lembrei desse texto que escrevi ano passado:


Tomei banho de chuva. Comi goiaba em cima da árvore. Aprendi a assobiar. Esqueci como se anda de bicicleta. Colecionei papel de carta. Toquei o sino da igreja no meio da missa [e saí correndo, feliz da vida].

Brinquei de Jogo da Velha. Aprendi a Língua do Pê. Li centenas de livros. Quis ser jornalista. Tornei-me uma felicíssima professora. Aprendi Braille. Ensinei essa escrita a centenas de pessoas. Estudei em 3 faculdades. Dei e dou aula em 2 delas. Tornei-me Especialista em Educação Especial.

Tive crise de riso. Chorei cântaros. Aprendi fazer bolinhos de arroz. Nunca cozinhei feijão, nem fiz brigadeiro, nem pipoca. Modifiquei o tamanho do meu cabelo várias vezes. Nunca pintei minhas madeixas [e ninguém acredita].

Já caí da cama. Já caí da rede. Metaforicamente, caí do cavalo. Tomei banho de mangueira, de piscina, de rio e de mar. Não sei nadar. Abri conta no banco. Abri conta no Google. Ganhei cartão internacional. Viajei por dezenas de estados. Nunca saí do Brasil.

Escrevi poesias. Inspirei poesias. Aprendi tocar violão. Mas só tocava na guitarra [pessimamente, que fique claro]. Conheci adversários. Conquistei amigos. Ganhei uma base aliada. Dancei na frente do espelho.

Fiz bolinhas de sabão. Fiz bolonas de chiclete. Fiz bolas de papel com as poesias que desisti de entregar. Participei de dois filmes. Ministrei algumas palestras. Misturei leite em pó com açúcar. Saí comendo às colheradas.

Brinquei de esconde-esconde. Brinquei de pega-pega. Metaforizei essas brincadeiras também. Corri de cão furioso. Fiquei furiosa. Decidi investir. Resolvi desistir. Comi muita pipoca. Chocolate também. Eu beijei e fui beijada. Meu pai prefere achar que nunca...

Viajei de carro, bike, barco, navio, ônibus, caminhão e avião. Nunca andei de trem. Cansei de esperar o metrô de Salvador. Tomei o trajeto Vergueiro/Jabaquara em São Paulo. Tenho um amor imenso guardado pelos anjos.

Trabalhei em todos os lugares que sonhei. Sou tia das pessoas mais lindas do planeta. Ganhei beijinhos de crianças impossíveis. Conquistei corações de pedra. Tive artigos científicos reprovados por universidades baianas. Em seguida fui aprovada pela Unesco em duas seleções consecutivas. Aprendi fazer torta de polenguinho.

Mas, e o mestrado? Ah, o mestrado logo vem, não é mesmo?

31.08.10

Outra pessoa que recebeu pergunta semelhante foi Fernanda Leturiondo.

Descrição da imagem: Eu, Patrícia, sentada nas escadarias da Casa das Rosas [São Paulo]. Estou usando calça jeans,camisete e sandálias rasteiras de tiras rosas, meus braços estão repousados sobre as coxas e minhas mãos estão unidas em direção à parte interna das pernas. Foto de Bibiane Silva.

15 comentários:

  1. Minha querida AMIGA Patrícia!!! Pra mim você é mestre em tantas coisas... Mestra em escrever-se, em escrever-nos... Mestra na arte da alegria, da simpatia, da compreensão, da amizade... Mestra em arrancar lágrimas e sorrisos de seus leitores fiéis (eu incluída)... Doutora nata em charme e inteligência... Doutora em brincar com as palavras e fazer com elas deliciosas sopas de letras com as quais nos nutrimos e nos deleitamos... Tantos mestres há que não sabem ser gente... Você é PHD em ser HUMANA!!!

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  2. Patrícia, seu texto é uma dádiva. A vida nos dá raras oportunidades para mestrado e doutorado fora das academias. Infelizmente poucos são felizes nesse outro tipo de graduação. A percepção das coisas nem sempre necessita de diplomas, mas a percepção das pessoas essencialmente requer um mestrado e doutorado na vida. Grato pelo texto.

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  3. Oi, Patricia!
    Vim te convidar pro sorteio relâmpago de Dia das Mães no BlogArte em parceria com a loja Villa ano. É só até dia 06/05! Boralá participar!!!
    Beijins,
    Andrea Guim

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  4. Amiga, quando eu penso em uma pessoa que me inspira, você é uma pessoa que sempre me inspira....seu nome deveria ser Patrícia Poeta, mas acho que Patrícia Braille já poetisa tanto quanto deveria ser...muito bom o artigo, muito especial do mesmo jeito que você tambpem é...
    e o mestrado...srrssrsrs...sem comentários!!!
    Fico muito feliz em vê-la seguindo com a educação inclusiva, principalmente em saber sua história, saber como tudo começou...Estou feliz também, pois começo a seguir um caminho também de educação inclusiva, voltada aos surdos e fico muito feliz em tê-la sempre me inspirando...
    bjão e parabéns mais uma vez...
    não conhecia o blog, mas....irei me sentar aqui sem pressa outras vezes!!
    um xeroo

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  5. Paty o mestrado é só para vc bater o recorde do máximo de palavras sobre o mesmo assunto. Quando escolher o tema avise, que para que eu começe a imaginar essa tese. Mas no seu caso eu deixava o mestrado pra depois e ia fazer concorrência a Marta Meideiros. É só se deixar escobrir pelas Editoras. Corre atras, vc vai chegar lá, vc pode, vc consegue e vai ficar rica, dessa vez de dindim.
    BJS.

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  6. Rosane, você é a melhor "melhor amiga" que alguém pode ter!

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  7. Guilherme, obrigada a você por acompanhar minha escrita! Andrine, você também contribuiu muito quando eu mais necessitei saber o significado de ser "fiel à minha felicidade". Obrigada!!

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  8. Augusta, Martha Medeiros vai ficar chateada com você! rsrsrs Em todo caso, já sei que quando eu lançar meu livro, você vai ler!! Beijos e obrigada por tudo!

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  9. Olá, você ganhou um selo. Confere aqui: http://marysimplicio.blogspot.com/2011/05/2-selo.html Beijos ;*

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  10. Não que eu seja pobre de opinião própria, mas esta frase reflete muito o
    que penso a respeito:
    "Um homem tem que ser medido pelo caráter, não pela escolaridade." -
    Senador Magno Malta (PR-Es).
    Não necessariamente nesta ordem... você tem escolaridade, mas, e o
    mestrado? Jesus não tinha mestrado e foi o líder mais prodígio que já
    existiu! Acredito que o mestrado não faz de você uma pessoa menos
    inteligente e desprovida de sabedoria...

    Como diz o advogado Vilmar Mota: "não procure dar audiência aos seus
    inimigos."

    É só

    Thanks

    Ezequiel

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  11. Pat

    Tem um post lá no meu blog sobre o mesmo tema que, se não me falha a memória, vc até comentou. Me intriga esse tipo de cobrança. No meu caso a pergunta foi assim formulada:‘vc já fez mestrado?'. O ‘já’ é que é de lascar. Pressupõe que algum dia irei fazer, afinal de contas não é possível que idéia diferente possa passar por minha cabeça. Nada contra o mestrado em si, algumas coisas contra o formato da academia, mas tudo bem, o que não concordo mesmo e nunca concordarei é que se legitime o conhecimento apenas por uma via. Essa talvez seja a minha bronca maior com tal da pergunta infame. Gente, há tantas formas de conhecer e de querer conhecer, tantos caminhos. Uns gostam assim, outros assado. E acho tão bom que uns façam assim e outros assado.
    Um beijo

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  12. Oi Patricia
    Gostei das descrições da imagem.

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  13. Oi Patricia
    Quero fazer essas descrições lá no meu blog.
    Vamos conversando!

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  14. Ei Patricia
    Estou precisando de ajuda nas descrições.

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