segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sobre a companhia das estrelas



Quando eu tinha uns sete anos fui passar o final de semana na casa de uma prima. Ela tinha um filho, um pouco mais novo que eu, e gostava que ele tivesse uma companhia para suas brincadeiras. Pensamos em muitas atividades para aqueles dias: iríamos à praia e para um aniversário que terminaria “bem tarde”. Ela me avisou que se eu sentisse sono poderia dormir na casa dos organizadores da festa. Eu fiquei muito empolgada com a programação. Não era a praia ou a comemoração natalícia que me alegrava, e sim a oportunidade de, pela primeira vez na vida, ir dormir “bem tarde”, ou seja, depois da meia-noite! Para mim não existia nada mais tarde que a expressão “meia-noite”, porque a mim nunca foi permitido dormir depois das nove. Eu sonhava em ver as estrelas desse horário proibido. Queria saber se eram as mesmas que me acompanhavam, junto com a lua, enquanto eu olhava pela janela do carro do meu pai ou quando andava na rua, segurando a mão da minha mãe e com os olhos fitos no firmamento, querendo entender o porquê de aqueles asteriscos prateados gostarem tanto de mim a ponto de me seguirem!

Eu nunca vou esquecer aquele pátio repleto de pessoas bebendo e comendo, a música animada que fazia a garotada balançar e eu fugindo do priminho que insistia em querer parceria para a atividade irritante de estourar os balões que decoravam a festa. Eu estava torcendo que ele dormisse logo, que a proximidade da meia-noite pesasse em seus olhos, porque os meus estavam fixos no relógio à espera da magia do céu “bem tarde”.

Aos poucos, as outras crianças da festa foram adormecendo ou sendo levadas para casa pelos pais. Minha prima levou o filhote dela para a cama e me perguntou se eu estava querendo dormir também. Claro que eu não queria!! Faltavam menos de sessenta minutos para a realização de um sonho! Procurei um cantinho, sentei e, com o rosto voltado para o céu, esperei pelo ponto culminante das noites... Casais dançavam, dessa vez ao som de canções românticas, dessas que fazem o rosto de um se encontrar com ombro do outro e corpos parecerem encaixes pré-moldados.

A Meia-noite chegou e o céu não me pareceu diferente daquele que eu observei horas antes, mas meu coração feliz e sonhador já nem me deixava escutar a música tocada ou enxergar algo que não estivesse lá em cima, naquele véu escuro e pontilhado de ternuras luminosas. Era como se o som se apagasse e as imagens das coisas e pessoas estivessem imperceptíveis. Eu estava em meu Planetário de Sonho, observando, a olhos nus, a brincadeira da noite que era tão criança quanto eu...

29 de janeiro de 2011

Descrição da imagem: Colagem de uma ilustração, feita de caneta em papel branco e recortada livremente, de uma garotinha de pé, com os braços abertos, olhando para cima e sorrindo, sobre um fundo de um céu noturno e muito estrelado. Desenho meu.

2 comentários:

  1. Sonhos... ilusões... verdades... enganos... e assim a vida continua...

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  2. ATÉ HOJE FAÇO ISSO, PATRÍCIA! UM ABRAÇO.
    IGNÁCIO

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