Ganhei um livro de colorir e amei. Veio da mesma pessoa que me presenteou com Umberto Eco, Jorge Luís Borges, Vinícius de Moraes, Edgard Allan Poe e muitos outros escritores do cânone. Meu único problema em relação ao Jardim Secreto é que estou com muita pena de colorir. Achei as ilustrações tão lindas em branco e preto que fiquei receosa, mas vou [ar]riscar tudo tão logo tenha tempo sobrando.
Hoje vi no Tribunal da Santa Inquisição, vulgarmente chamado de Facebook, a patrulha do lápis de cor falando mal dos livros de colorir, como se Jardim Secreto e similares fossem os culpados pelo insignificante número de leitores em todo o território nacional.
O livro na escola é mostrado como ferramenta de punição. Traquinou? Vai pro cantinho da disciplina ler Dom Casmurro pra aprender a respeitar a professora! Na biblioteca o livro é algo tão intocável que poucos bibliotecários permitem o acesso às estantes. Nas livrarias, para grande parcela da população, eles são inatingíveis de tão caros. Para os cegos eles são intocáveis, inaudíveis e impossíveis, porque livro acessível no Brasil ainda é artigo raro que depende da caridade de voluntários.
Então, patrulha, me deixe, viu? Quem gosta de ler e tem acesso aos livros, quem foi seduzido pelo prazer da leitura, continuará lendo. Não será um livro de colorir o culpado do fracasso nas estatísticas do livro e da leitura no Brasil. Esses livros são objetos de distração. São como palavras-cruzadas, passatempo. Funcionam como fuga da rotina. A quem pretendem enganar com essa defesa do extremamente cerebral como única forma de expressão válida? Por que colorir ofende tanto, hein? Chegaram a falar em “campanha pela maioridade intelectual”. Eu sugeriria uma “Campanha pelo Livro para Todos”.
Nem queria falar naquele sentimento que acomete algumas pessoas quando uma ideia simples se transforma numa mina de ouro e o sujeito não teve a sorte de ser o autor. Em todo caso, patrulha, está nervosa? Vai pintar!
Patrícia Braille
Salvador, 20 de maio de 2015